terça-feira, 11 de dezembro de 2007

Novembro

Era noite de novembro, eu me recordo bem. Já faz sete anos, mas eu me lembro como se fosse ontem.
Nós éramos quatro. Íamos de um lado ao outro da cidade atrás de diversão, que poderia ser definida por nós como cerveja-música-confusão. A grana era curta, era preciso bastante lábia pra conseguir transporte de graça, e muito sebo nas canelas pra sair do bar sem precisar pagar. Nossa cara já era marcada em alguns botecos, e por isso tínhamos sempre que estar variando. Então nesse dia decidimos cair para a área nobre da cidade. Pessoas bem arrumadas, perfumes caros exalando pelas ruas um aroma suave, se misturando ao monóxido de carbono dos carros ultra-potentes, e a mesma música da moda em todo lugar que a gente tentava ficar. Não era fácil achar um bar compatível com nossa condição ali, pelo menos era o que nos diziam os seguranças de cada um dos que tentávamos entrar. Não sei se por causa de nossas roupas esfoladas das grandes noitadas que tínhamos, ou simplesmente porque não iam com a nossa cara, afinal, todos ali tinham roupas de grife, cabelo penteado bonitinho, ou desarrumadamente elegante, ou até mesmo nos lugares alternativos, todos com roupas que você acha em qualquer brechó, exceto por uma única diferença, que eram as etiquetas com suas marcas, que poderia se chamar de passaporte para o lugar. Ficávamos putos, mas íamos levando, afinal, entendíamos o medo que por ventura tivessem de quatro malucos que pareciam ter acabado de voltar de um campo de batalha... normal.
Era perto das dez horas quando achamos um boteco perdido, enfiado por entre vários prédios residenciais. Não sei como fomos parar ali, aquelas ruas arborizadas, um vento fresco numa cidade infernal. Para chegar lá era preciso se enfiar em vielas criadas pelos altos muros dos casarões que ali havia. Meia hora de caminhada por esses becos high society, vez ou outra, cheiro de churrasco vindo de algumas casas se misturavam com a brisa, vinda dessas mesmas, informação irrelevante no caso, mas que nos mostrava estar em um lugar confuso. Depois de vinte minutos de caminhada, entra-se a esquerda, e segue até o final, onde há uma escada em forma de caracol, sem corrimão, subindo ela, estávamos já no centro do que poderíamos chamar de bar. Ali achava-se pessoas diversas, mas com características comuns. Não se encaixavam no perfil dos humanos que habitavam aquela área da cidade. Sentamos no balcão e pedimos um chopp. O pedido veio bonito... acho que nessa cidade não havia outro lugar que servisse aquela caneca. Cerca de um litro e meio de uma cevada que parecia ser feita especialmente pro nosso paladar, e a um preço extremamente barato. Íamos bebendo enquanto a madrugada chegava, quando por volta de umas três horas, eu me deparo com aqueles olhos hipnóticos, de uma beleza estranha, admiração exacerbada e respeito, inseguranca, e ao mesmo tempo demonstrando uma vontade imensa de se auto afimar naquele lugar. Provavelmente era a primeira vez que entrava ali, assim como nós. Não reparara em nada além dos olhos até que um dos meus amigos me cutuca, quando no mesmo momento eu tenho a certeza que já me deparara com aquela pessoa antes. E com meu amigo me dá a certeza. Viu quem acabou de subir?, Vi sim, mas não me lembro quem é, E o Terrorista, malandro la da rua do lado da nossa, tá sozinho, Ih caralho! fudeu!, vem merda por ae, Com certeza!, A qualquer momento, Tava demorando...
Foi só o tempo de brindarmos, matar o que ainda havia de cerveja, e descer a escada.

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