terça-feira, 4 de novembro de 2008

chuva

Tempo chuvoso. A maioria das pessoas preferem ficar em casa, assistindo a um filme, comendo queijo e bebendo vinho. Eu não. Debaixo de chuva minha disposição parece aumentar, e por isso, não deixo de ir para rua em uma noite de chuva. Ontem foi assim. Encontrei-me com Richard no bar aqui embaixo do meu prédio, e tomamos aquela cerveja. O bom do tempo de chuva é que, você não precisa o sol sumir para sair às ruas. O tempo bem fechado deixa tudo mais nebuloso pelo asfalto, e é desse jeito que eu me sinto seguro. Nós já havíamos passado da décima garrafa, quando compramos mais um maço, entramos no carro, e fomos dar uma volta pela redondeza, tentar achar mais alguem perdido por causa da chuva. Demos uma volta completa pelo bairro e nada, quase ninguém nas ruas. E a noite começava a, realmente, cair. Era nossa hora chegando. Uma parada na praia para beber mais algumas cervejas. E pensar para onde ir. Tomamos algumas, e íamos em direção ao carro, quando parou uma viatura ao nosso lado, e decidiram nos abordar. O bafo era embebedante. E a porta de nosso carro já aberta, denunciava o descumprimento da lei. Porra!, fodeu, bicho!. Disse comigo mesmo. Não havia saída. Se entrássemos no carro e saíssemos em disparada, eles teriam nossa placa, e conseqüentemente nosso endereço. Além do que, marcariam nossas caras, e em breve, estaríamos descansando em alguma vala, banhados a chorume. O jeito era, vergonhosamente, se render. Como em qualquer abordagem, recebemos aquelas carícias que apenas policiais sabem dar, uma massagem que duraria alguns bons dias. Mesmo todos sabendo o quanto os porcos dessa cidade são corruptos, eles tentam se fazer respeitar na base da porrada. Depois de alguns bons minutos de tortura, perguntam quem somos, e o que estamos fazendo. No fim, a proteção a nossa população termina com a compra de uma garrafa de whiskey de muito boa qualidade. A massagem não faz efeito, ainda. O efeito do álcool ainda é alto, e logo após os assaltantes do estado saírem, compramos outra garrafa pra gente. A seguir, decidimos partir à uma região mais civilizada, resgatar nossa moral. E no posto, antes de pegar o caminho da civilização, quando já havíamos acabado de abastecer, e íamos saindo do posto, damos de cara com os porcos. Levanto minha garrafa em direção a vista deles, e saio em disparada, mandando-os tomar no cu. Eles tentam seguir a gente, mas o álcool aguça meus sentidos, e eu enfiei o carro em buracos que eu jamais saberia que essa porra poderia entrar. Meia hora depois, estamos lá. Bairro de gente chique. Turistas. Dinheiro. E putas. E traficantes. Todos em busca de prazer. E nós, também!. O difícil é escolher em que lugar ir. Todos são convidativos demais. Muita gente fazendo pose, bebendo bebidas finas, e dançando a última onda em música. Alguns tentam tirar onda de bad boys, outros de membros de gangue. Mas que ao final da noite, volta todo mundo à casa de seus pais, para tomar leite com chocolate, levado na cama pela mamãe. Ao menos eles tem mãe. Eu já perdi a minha, e Richard sabe do ódio que eu guardo de quem foi o responsável. Ela cometera suicídio, após ter sido estuprada pelo seu chefe, em sua mesa. Provavelmente, marido de uma dessas mamães que fazem o leite pro filhinho. E sempre que eu ando por esses lados, essa história se passa em minha mente. Richard também fica com um ódio estampado em seus olhos, mas não tanto quanto eu. Andando bem devagar por essas ruas, e observando a cara de cada uma dessas pessoas que decidem olhar para o carro. Essa situação me dá uma sensação de desprezo, e ao mesmo tempo, uma necessidade de vingança. O que deveria dar também, uma insegurança. Visto que, onde há dinheiro, as coisas funcionam. Morre uma pessoa por aqui, e dois dias depois, eles já tem o culpado. Enquanto, eu, estou esperando até hoje uma posição do caso de minha mãe, quanto ao estupro. A cerveja e o whiskey terminaram. Teríamos de descer em algum posto comprar mais, e também cigarro. Por ser arriscado estar por ali, e sermos apenas dois, decidimos parar em uma alameda mal-iluminada. Abrimos a mala do carro, e pegarmos o que pudéssemos precisar em caso de emergência. Soco inglês, taco de baseball, e uma pequena faca. Para cada um. Voltamos ao carro, e paramos em um posto de esquina. A receptividade até que não foi das piores. Apenas olhos feios e assustados com nossa presença ali. Alguns, poderia até dizer que pensavam algo como, vai dar merda.... Os tacos presos à cintura, ficavam até bem discretos. Num lugar desses, por aqui, nunca deve-se abaixar a cabeça. E foi o que fizemos. Pegamos o que queríamos, e fomos pagar. Não sei se nego estava bêbado demais, ou se ele realmente queria aquilo. Nos olhos quando estávamos pagando e falou em alto e bom som, a mãe de vocês deve estar com a buceta bem assada, pra vocês conseguirem pagar tudo isso!. Foi o que não prestou. Mal terminou de falar, e já havia uma mão apertando seu pescoço. A tensão tomou conta do local. E, após segurar o malandro: Não vou perguntar o que você disse porque eu escutei muito bem, e quem deve estar assada, é a sua mãe, de tanto dar à empregados como eu. E, quem vai ficar doido, aqui, se não pagar a nossa conta, vai ser você. Nisso o Richard encostou o taco de baseball na bunda do folgado. Todo mundo, ali, fingia não ver nada. A única pessoa que se importava com o desfecho, era o funcionário. Quase ao mesmo tempo que o maluco deu o dinheiro, vimos chegando alguns amigos dele, uns quatro, meio desengonçados. Nisso, meu amigo deu uma tacada na cabeça do cara que tava em minha mão, e nos preparamos pro que viria. Na hora, o funcionário ligava para a polícia. E nós esperávamos os quatro virem ao nosso encontro. Quando eles entraram no estabelecimento, jogamos uma lata na vitrine, para facilitar a saída. E ao nosso estilo, bem objetivo, bater em locais em que o outro fique sem reação. Fizemos assim, derrubamos três, mais o que deu início à toda confusão. O último, veio atrás da gente até entrarmos no carro. Eu ia manobrando, e quando ele ia se aproximando, Richard tacou uma garrafa, que acertou de raspão, um pouco abaixo de sua testa, próxima a linha do olho. Quando ele tirou o sangue que turvava sua visão, só pôde ouvir o canto dos pneus.

2 comentários:

Doug disse...

Me amarrei nesse conto!

Bárbara Cecília disse...

já quero o filme!