segunda-feira, 13 de outubro de 2008

credo na noite

Já não havia mais tanto reflexo naquela maldita hora. Tava de saco cheio daquela merda de lugar. As pessoas me olhavam como se nunca tivessem visto nada igual. Fingiam não estar me vendo, mas eu conseguia perceber por dentro daqueles óculos escuros, podia sentir, como se me espancassem apenas com olhares. Sentia vontade de vomitar, de vomitar para todos os lados, sujar todos eles com meu vômito nojento e exótico. Nunca aquele lugar haveria de ter recebido um vômito de alguem como eu. Não fazia idéia de qual motivo havia me levado àquele lugar. Provavelmente a cachaça e algum cheiro feminino, este último que já me levou para o céu e para o inferno. Não posso sair por aí sozinho, devia ter levado mais a sério as palavras do psicólogo, quanto a minha atividade social. Mas depois de algumas cervejas e caipirinhas, fica difícil domar o instinto. O meu não pode parar em qualquer lugar. Mal o sol começa a se por, e já vou eu descendo do meu apartamento para brincar no playground – entenda aqui, que moro naqueles prédios com lojas no térreo, das quais só freqüentava uma, um bar. Quando a noite realmente começa, eu ainda estou sóbrio, mas quando chegar perto das onze horas... já era. Todos sabem que não devem mexer demais comigo. E de lá acabo partindo sem rumo para algum lugar distante da cidade. E só vou ter consciência de onde estou, no outro dia, pela manhã, quando acaba o dinheiro e o efeito do álcool. Nesse dia, não ocorreu nada de diferente, exceto o efeito ter acabado mais rápido, ou a noite ter se prolongado. Minha vida era completamente oposta ao que via, crianças, outras nem tão novas assim, que papai e mamãe levavam e buscavam da perdição, do local onde, só não sabia quem não queria, as drogas, promiscuidade (putaria mermo), e o que mais satã desejasse, ocorria. Ou pelo menos, assim diziam. Pois para mim, não passavam de drogas fracas e sem graça, usadas apenas para dizer 'eu uso drogas, yeah!'. Enquanto isso eu ria. Porém continuava a me incomodar com aqueles olhares como se eu tivesse acabado de sair do zoológico. Pro inferno. O efeito do álcool, como já havia comentado, começou a dissipar cedo, mas para minha surpresa, ainda havia cash na minha carteira. Então era hora. Foi mais cerveja e cachaça para a mente. Apenas, disso, me recordo. Depois estava eu botando fogo no banheiro do lugar. Fechando o zippo, e saindo calmo, porém apressado. Saí, e assim quando sentei no ônibus, uns cinqüenta metros dali, um estouro, e uma claridade iluminou a nuca do motorista.

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