quarta-feira, 15 de outubro de 2008

quartos escuros

Acaba de dar meia-noite, e enquanto a gente andava pelas ruas, avistávamos as mulheres semi-nuas, em meio a escuridão das vias mal iluminadas. Andávamos, nós quatro entre traficantes baratos de esquina. Cada um deles esperando uma chance para enfiar uma bala em nossas cabeças – isso, se conseguissem mirar, devido ao grande consumo deles próprios. Não consigo entender como eles conseguem se mantes, se noventa por cento do que deveriam vender, são usados para consumo próprio. A gente pega o que é nosso de direito, e voltamos para as ruelas mais escuras da cidade. Tudo tão largado a própria sorte, e o verde, que na noite não é mais verde, se transforma em grandes e escuros, esconderijos. Que belas sombras. Era o que restava para a gente. A sociedade não havida dado chance de nos redimir, apenas chutou cada um de nós para o mesmo beco imundo. Poderíamos ter tido outro futuro. Mas nos juntarmos, era o mais seguro, e para o momento, o mais correto. O puteiro que havia perto era um bom parque de diversões. Entrávamos, e ninguém nos reconhecia, os seguranças eram todos um bando de bêbados, jamais poderiam lembrar de nossa cara na noite anterior. As putas? Essas se drogavam mais que qualquer um ali. Trabalhavam quase 24 horas por dia, para saciar os desejos dos grandes senhores locais - políticos, empresários – até os porteiros da região, e também, mercenários, como nós. E como só chegar lá e foder é pros fracos, nosso maior tesão era ver dentes caindo, e depois elas deitadas, inconscientes. Pagar pra comer puta? Jamais!. Lá vinham os seguranças, cambaleando, que dava até dó. Era mais fácil bater neles, que nas mulheres. Quando atravessávamos a porta e chegávamos à rua, estávamos realmente seguros. O breu nos dava esse privilégio. Mas não podíamos ficar ali por perto. Como já disse, o lugar tinha muita gente importante. E em pouco tempo, ouviam-se sirenes, e tiros disparados. Sabíamos que eles só deixariam viver, se nossa oferta cobrisse a do superior, em seguida começava o leilão pelo rádio. Assim, ficaríamos sabendo, o quanto a gente valeria. No entanto, nosso preço devia ser muito alto, pois nunca nos pegaram. Era amedrontador, ver entrando, na nossa região, o carro da polícia, ou o 'pavor', como costumávamos chamar. Sempre que acontecia isso, já começávamos a nos preparar para cavar mais algumas covas, e confortar alguma mãe, que havia tido sua filha levada pelos senhores de farda, para a diversão em alguma festa de seus superiores. A imprensa? Preferia dar mais atenção às suas novelas, citando, nelas, os 'grandes' desafios da classe alta. Ontem foi a vez da minha irmã.
baseado na música
la kotche - quartos escuros

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