quinta-feira, 16 de outubro de 2008

eu

Eu já estive no céu, e também já estive no inferno. Conheci o satanás, e também aquele zézúíz. Vi um brigar com o outro numa mesa de bar. Também vi a lua vir fazer chamego na terra. Vi o sol seduzindo o que na época eram meia dúzia de planetas. E foi seduzindo mais. Eu tive com o bem e com o mal. Conheci bem os dois. Também lembro de um muro. Havia um gigantesco muro, atrapalhando a grande visão. Lembro pouca coisa, uma delas é do grito das pessoas que se machucaram quando eu o derrubei. Já visitei os mais distantes lugares. Já fui aos mais profundos abismos do oceano. Já sentei numa praia da polinésia com o senhor noel. Eu já conheci sua mãe, e também seu pai. Estive presente no nascimento de seus avós. E também quando seus tataravós fecundaram. Estive em lugar privilegiado, no funeral, de boa parte deles. Eu vi o homem nascer do barro. Na forma de uma bactéria inofensiva. Vi ele ganhar forma, e se transformar num ser vivo patético. Estive presente no momento em que eles desenvolveram sua inteligência. Necessidade. Vi também abusarem dela. Vi nascer a primeira chama criada por esse ser. E por consequência esse fogo destruir, matar. Eu vi um ser não se satisfazer. Um ser não se saciar. Também vi um ser ser negado por seu pai. Usar e abusar de outros, em nome de um suposto pai. Vi ele destruir tudo que via pelo caminho. Inclusive outrem, iguais a eles. E vejo esse ser, do mesmo jeito, hoje. Numa escala infinitamente maior. Eu vejo seres não humanos, ajudando outros, humanos e não-humanos. Seres que procuram a sobrevivência em outros mundos, e não se preocupa em manter o qual já se vive. Eu vejo uma gigantesca nuvem de gafanhotos. Rios de sangue por todo o mundo. Eu vejo um ser rejeitado por seu próprio criador, embora não saiba quem o tenha criado. Deus diz que foi o diabo, o diabo diz que foi deus. E ninguém se responsabiliza. Eu também estarei em seu leito de morte. Estarei presente em um bom lugar, assistindo a você virar esterco. E, talvez, quem sabe, estarei no de seu filho. Se ele tiver a chance de viver alguma vida além da televisão. Eu o verei ter a chance da vida. Ou o verei sofrer, numa selva de concreto, sombria, e sozinho. Estarei presente.

2 comentários:

Bruna Morgan disse...

Nuss...



Ei, ela é burra sim x.x...ela foi atras do marido que correu pro quarto xD../huahua

maria disse...

mas me diz, quem seria esse "eu" todo sabichão que conhece tudo o que há e que houve? seria a vida em si? o ciclo da vida que não pára seria um bom observador de todas as coisas que nascem e morrem, porque ele existe eternamente. seilá.
isso me lembrou um trecho do livro "assim falou zaratustra", de nietzsche, que diz: "tudo se destrói, tudo se reconstrói, eternamente se edifica a mesma casa da existência. tudo se separa, tudo se saúde outra vez; o anel da existência conserva-se eternamente fiel a si mesmo".
enfim.
a vida é uma merda sim, e esse mundo tem esgoto o bastante pra afogar a porra da humanidade inteira.
e seilá, talvez o homem possa ter criado a concepção de inferno só pra tentar fazer da terra um lugar melhor e se sentir menos na merda. uma tentativa frustrada, porque o inferno acaba sendo aqui, de qualquer forma. não dá pra fechar os olhos perante tanta porcaria, não dá pra ser cego. na minha opinião, quanto mais consciência eu tenho da realidade, melhor me sinto, por mais que haja muitas verdades que machucam ou que nos fazem, por um momento, preferirmos a cegueira.
enfim, whatever. cansei de escrever e de viajar aqui. continue produzindo esses textos absurdinhos, pq sempre há uma coisinha intrigante aqui e ali a ser comentada/refletida. quando tiver alguma novidade, avise :)
beijos!